Futuro secretário de Educação rejeita meritocracia
José Clóvis Azevedo considera decadente o sistema que o atual governo tentou implantar
Quando assumiu a prefeitura da Capital, em 2001, o hoje governador eleito Tarso Genro tirou das mãos do professor José Clóvis Azevedo a Secretaria de Educação, aprofundando a crise entre as correntes internas do PT.
Passados 10 anos do episódio, Tarso convoca agora Azevedo para enfrentar um dos maiores desafios do novo governo: fazer a educação gaúcha decolar.
— Isso é do mundo da política. Minha relação com o governador nunca foi afetada por questão partidária — afirma Azevedo.
Contrário à meritocracia, o futuro secretário recebeu ZH ontem no Centro Universitário Metodista-IPA, onde dá aula e é pesquisador.
Meritocracia
Apesar de o governador eleito ter manifestado apoio ao pagamento de 14° salário aos professores de acordo com desempenhos dos alunos e escolas, o futuro secretário se posiciona contra a política de meritocracia. Para ele, o sistema, que o atual governo tentou implantar, é decadente:
— Esse modelo é um grande fracasso, que estão tentando acolher como a grande salvação da pátria. Claro que avaliação é importante. O merecimento das pessoas que se especializam e se aperfeiçoam deve ser contemplado no plano de carreira. Os critérios que já existem hoje podem ser aperfeiçoados. Não é um instrumento de resolução de problemas, mas uma proposta que só complica. É polêmica e trava a discussão pedagógica.
Política salarial
O piso salarial nacional dos professores exigido pelo Cpers e que chegou a ser questionado na Justiça pelo governo Yeda Crusius deverá ser pago, mas gradualmente, ressalta o novo secretário:
— Vamos avançar gradativamente ao valor absoluto do piso. Mas isso não vai ser de uma hora para outra. Será gradual. Vamos abrir uma comissão de negociação para ajustar isso.
De acordo com Azevedo, o governo Tarso pretende atrelar o vencimento básico ao piso nacional, fixado atualmente em R$ 1.024.
— Queremos integrar parte do valor do piso ao vencimento básico, que hoje é muito baixo, cerca de R$ 370. O problema é que o piso não se indexa para o plano de carreira, mas sim o valor do básico – sustenta.
Relação com Cpers
Pedra no sapato do atual governo, o Cpers passará a negociar com um ex-dirigente do sindicato. O futuro secretário pretende usar essa experiência para se relacionar com a categoria e apaziguar o clima de guerra criado nos últimos anos. Ele pondera, no entanto, que todos os governos, nos últimos 30 anos, passaram por conflitos com o sindicato.
— Sabemos que existe uma distância muito grande entre a reivindicação da categoria e aquilo que o Estado pode atender. Vamos estabelecer uma comissão permanente que discuta todas as questões, inclusive projeto pedagógico. Não vamos trabalhar em nenhum momento de maneira unilateral. O conflito é normal, mas vamos fazer um grande esforço para seguir em frente.
Qualificação
Patinando nos últimos anos, a qualidade do ensino é prioridade para a nova gestão. Para Azevedo, o avanço na rede pública passa essencialmente pelo treinamento permanente dos professores.
— Melhores salários ou escolas reformadas é importante. Mas ter tudo isso sem um professor com a formação adequada não adianta – afirma.
O futuro secretário afirma que o modelo de ensino atual é ultrapassado e precisa ser atualizado para atrair a atenção do aluno. Além disso, Azevedo pretende reduzir o grande número de professores temporários, que hoje passa de 20 mil, convocando concursos:
— Isso é um retrocesso. Nos anos 80 praticamente não havia contratados. O professor não tem raiz, não participa do dia a dia da escola.
Ensino Médio
Com altos índices de evasão e indicadores negativos de qualidade, o Ensino Médio tornou-se o principal entrave da educação pública. Sem o Bolsa-Família, que mantém alunos do Ensino Fundamental em aula, os adolescentes abandonam em massa a escola para ajudar no orçamento familiar.
Azevedo terá a missão de tocar o ProUni RS, um projeto de Tarso baseado no programa nacional que distribui bolsas nas universidades. A iniciativa pretende subsidiar os alunos no Ensino Médio, mantendo-os mais tempo na escola. A outra ofensiva ficará por conta da expansão do ensino profissionalizante:
— É fundamental (unir as duas formações) para não corrermos o risco de criarmos trabalhadores obsoletos.
Passados 10 anos do episódio, Tarso convoca agora Azevedo para enfrentar um dos maiores desafios do novo governo: fazer a educação gaúcha decolar.
— Isso é do mundo da política. Minha relação com o governador nunca foi afetada por questão partidária — afirma Azevedo.
Contrário à meritocracia, o futuro secretário recebeu ZH ontem no Centro Universitário Metodista-IPA, onde dá aula e é pesquisador.
Meritocracia
Apesar de o governador eleito ter manifestado apoio ao pagamento de 14° salário aos professores de acordo com desempenhos dos alunos e escolas, o futuro secretário se posiciona contra a política de meritocracia. Para ele, o sistema, que o atual governo tentou implantar, é decadente:
— Esse modelo é um grande fracasso, que estão tentando acolher como a grande salvação da pátria. Claro que avaliação é importante. O merecimento das pessoas que se especializam e se aperfeiçoam deve ser contemplado no plano de carreira. Os critérios que já existem hoje podem ser aperfeiçoados. Não é um instrumento de resolução de problemas, mas uma proposta que só complica. É polêmica e trava a discussão pedagógica.
Política salarial
O piso salarial nacional dos professores exigido pelo Cpers e que chegou a ser questionado na Justiça pelo governo Yeda Crusius deverá ser pago, mas gradualmente, ressalta o novo secretário:
— Vamos avançar gradativamente ao valor absoluto do piso. Mas isso não vai ser de uma hora para outra. Será gradual. Vamos abrir uma comissão de negociação para ajustar isso.
De acordo com Azevedo, o governo Tarso pretende atrelar o vencimento básico ao piso nacional, fixado atualmente em R$ 1.024.
— Queremos integrar parte do valor do piso ao vencimento básico, que hoje é muito baixo, cerca de R$ 370. O problema é que o piso não se indexa para o plano de carreira, mas sim o valor do básico – sustenta.
Relação com Cpers
Pedra no sapato do atual governo, o Cpers passará a negociar com um ex-dirigente do sindicato. O futuro secretário pretende usar essa experiência para se relacionar com a categoria e apaziguar o clima de guerra criado nos últimos anos. Ele pondera, no entanto, que todos os governos, nos últimos 30 anos, passaram por conflitos com o sindicato.
— Sabemos que existe uma distância muito grande entre a reivindicação da categoria e aquilo que o Estado pode atender. Vamos estabelecer uma comissão permanente que discuta todas as questões, inclusive projeto pedagógico. Não vamos trabalhar em nenhum momento de maneira unilateral. O conflito é normal, mas vamos fazer um grande esforço para seguir em frente.
Qualificação
Patinando nos últimos anos, a qualidade do ensino é prioridade para a nova gestão. Para Azevedo, o avanço na rede pública passa essencialmente pelo treinamento permanente dos professores.
— Melhores salários ou escolas reformadas é importante. Mas ter tudo isso sem um professor com a formação adequada não adianta – afirma.
O futuro secretário afirma que o modelo de ensino atual é ultrapassado e precisa ser atualizado para atrair a atenção do aluno. Além disso, Azevedo pretende reduzir o grande número de professores temporários, que hoje passa de 20 mil, convocando concursos:
— Isso é um retrocesso. Nos anos 80 praticamente não havia contratados. O professor não tem raiz, não participa do dia a dia da escola.
Ensino Médio
Com altos índices de evasão e indicadores negativos de qualidade, o Ensino Médio tornou-se o principal entrave da educação pública. Sem o Bolsa-Família, que mantém alunos do Ensino Fundamental em aula, os adolescentes abandonam em massa a escola para ajudar no orçamento familiar.
Azevedo terá a missão de tocar o ProUni RS, um projeto de Tarso baseado no programa nacional que distribui bolsas nas universidades. A iniciativa pretende subsidiar os alunos no Ensino Médio, mantendo-os mais tempo na escola. A outra ofensiva ficará por conta da expansão do ensino profissionalizante:
— É fundamental (unir as duas formações) para não corrermos o risco de criarmos trabalhadores obsoletos.
Fonte: ZH, por Gustavo Azevedo. Educação. ZH. | 26/11/2010 | 04h40min.
Em:http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora)
Quem é |
- Nascido há 65 anos em São Sebastião do Caí, o professor José Clóvis de Azevedo formou-se em História pela UFRGS em 1972 |
- Em 1973, ingressou no ensino público estadual, onde ficou até o fim dos anos 80. Em 1987, foi eleito secretário-geral do Cpers |
- Na primeira gestão de Tarso Genro na prefeitura da Capital, foi secretário-adjunto da Educação. Em 1997, na administração de Raul Pont, assumiu a pasta |
- Em 2001, participou da criação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). Assumiu como reitor, ficando até 2003. Coordena o programa de pesquisa da pós-graduação do Centro Universitário Metodista-IPA |
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