Belinha e seus exemplos .
Belinha tentou explicar à professora, ao Conselho Tutelar e, finalmente, aos pais que:
- ah, esse negócio de ficar na escola já era. Estudar? Pff. Perda de tempo. Tinha nascido era pra ser piriguete.
- Pô. Piriguete, Belinha?
- E. Bombadona, popozuda, só das cachorra. Uhu.
- E a escola?
- Hum. Posso ir lá, tentar vender umas parangas.
- Que horror!
- Nadavê. Horror os manos fazem com professor metido e Polícia aposentado. O resto tá de boa. E só ficar gel.
- E o diploma? Não quer ter teu diploma?
- Diploma? Pra quê?
- Ué, ter um emprego, ser alguém na vida, etc.
- E? E o Tiririca, tem diploma? O Neymar? bandidos?
- Ai, não filha.
- Mas tá na moda. De mais a mais, agora a gente não precisa mais se preocupar nem em ter cela especial. Nem com cela nenhuma. Pode meter bronca, fazer o que quiser, que ninguém mais vai preso. Tá tudo liberado. Dá nada.
- Aiaiai. Pelo menos pensa no teu futuro. Nos teus sonhos.
- Meu sonho é botar silicone no bumbum. Pra isso, quero grana. E pra ter grana não adianta estudar, né, qualquer um sabe.
- Dãã.
- Mas um dia pode precisar.
- Aí faço EJA, Encceja, qualquer umas dessas coisas aí que dão diploma de barbada.
Muito mais rápido e prático. A gurizada toda já se ligou. O negócio da hora é aproveitar a vida. Curtir a juventude. Beber cair e levantar. Depois se dá um jeito no resto.
- É, no resto mesmo. Mas, pôxa. Isso tudo é ódio da tua mãe? Dos professores?
- Não. Mas amo Lady Gaga, Geisy Arruda e a Mulher Porongo, só pra saber. Grandes mulheres. Quero ser igual a elas.
- E se passar fome por tuas escolhas?
- Giro bolsa família pra mim, ué?
Os conselheiros olharam para a professora. Que olhou para os pais. Que olharam para o céu, desesperados.....o negócio era rezar. (Oscar Bessi Filho) -(adaptado).
Fonte: Correio do Povo, 03/07/2011.
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